sexta-feira, 24 de abril de 2009

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O pobre diabo sentiu medo verdadeiro pela primeira vez no dia. Não entendia como o universo conspirara para que retornasse àquela pocilga a céu aberto e, de quebra, dava de cara com três bestas do apocalipse, possivelmente os responsáveis por sua quase morte. Carlos poderia ir embora, mas a curiosidade persistia em suas idéias. "O que faziam ali? Será que queriam certificar-se que meu corpo já estava em processo de composição?", pensou. Podia atacá-los e esbofeteá-los quando virassem para ir embora, mas não tinha forças para tanto. Carlos então resolveu agir com prudência, tentar conversar calmamente com os filhos de belzebu. Não lembrava-se de ter visto pessoas tão horrorosas em toda a sua vida. Saiu dos arbustos e foi logo notado pelo traveco de tanga. O fedor era insuportável. Alguns miolos e tripas escapavam de alguns corpos e era possível sentir todas aquelas almas rodeando seu corpo. "Seu filho-da-puta", disse o deformado ao mesmo tempo em que todos olharam para Carlos, que não disse nada. "Você não está morto?", a besta selvagem falava com certo sotaque estrangeiro. Devia ser um gringo que se veio ao Brasil a passeio e se apaixonou e nunca mais foi embora. Nosso herói permaneceu mudo, não conseguia falar merda nenhuma. Os outros dois sacaram facas e apontaram para o bucho de Carlos. Foi só aí que ele olhou com calma para eles: um cafuzo que possivelmente aplicara silicone no rosto e parecia uma anta bípede e um velho careca, cheio de cicatrizes ao longo do corpo que vestia somente um camisolão.

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