quinta-feira, 30 de abril de 2009

41

Mastigando os pensamentos, o jovem diabo chegou a certeza de que se tratava de um completo imbecil. Em menos de 48 horas havia selado vários desfechos para sua existencia maldita. Aceitou sua condição, não pensou em fugir, pulando do automóvel em movimento. Simplesmente desistiu. Já imaginou o líder de Panambu usando seu corpo viril como cobaia para alterações genéticas, se imaginou com um cacete costurado na testa e uma boceta no sovaco, riu sozinho na caçamba. Ainda faltavam algumas horas para o pôr-do-sol e a medida que se aproximavam da Vila Pau no Cu, o ar foi se tornando denso e espesso, uma umidade violenta tomou conta do ambiente. "Só pode ser esperma" pensou Carlos. Ao entrarem nos dominios da Vila, notou o magrelo Vânia discutindo com um enorme japonês vestido com roupas colegiais femininas. O rapagote só notou o pobre diabo quando a caminhonete já estava longe, ficou um tanto encafifado. Por debaixo de camadas de silicone industrial e uma peruca ruiva, Bilica grunhe com dificuldade: "Carlinhos, infelizmente tenho que te levar ao líder. Profanaste nossa Vila e aqui se faz, aqui se paga". Pronto, finalmente teria seu veredito. Chegaram ao chalé onde a temível criatura decretaria sua sentença. 

quarta-feira, 29 de abril de 2009

40

Claro que tudo ali não passou de uma alucinação. Carlos não é e nunca será um assassino. Quando acordou percebeu que estava sentindo uma forte pontada no traseiro, onde um quarto traveco, que estava escondido, lhe atingira com um dardo lançado por uma zarabatana. A droga fez o diabo alucinar novamente, como quando banhou-se na tina de Vilma. Novamente sonhou com um indivíduo frio, capaz de realizar qualquer absurdo. Era o inconsciente de Carlos se manifestando, revelando o homem que, lá no fundo, ele sempre almejou ser. Vez em quando dava uns pescoções em Gérson ou algum corno que lhe cruzava o caminho, mas matar? Jamé! Percebeu que estava solto, nem os animais siliconados temiam ele. De certa forma era um alívio, pois imaginou que o tal líder - e era para ele que os lacaios estavam levando Carlos na caminhoneta - deixasse-o partir quando percebesse que era inofensivo como uma pomba gorda. Quando retomou completamente a sanidade, se é que isso era possível àquela altura, ele até reconheceu um dos demônios. Era um velho amigo, o Bilica, que jogava futebol com ele na infância e ficou feliz por ele, pois parecia gostar da posição que se encontrava. O julgamento se aproximava, mas Carlos sacolejava no automóvel com a mente vazia.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

39

Correr não seria uma boa opção, se por ventura conseguisse fugir, o trio voltaria à Panambu e o líder ordenaria uma busca intensa, recrutando seus piores mentecaptos para a busca por Carlos. Chegara a hora de lutar. Desarmado e nu, caminhou de costas observando o solo em busca de algo que poderia ferir os veadões. De faca em punho, o coroa de camisolão gritava que seria ele quem tiraria a alma do pobre diabo. O travesti investiu pesado contra a carcaça de Carlos, que sentiu a lamina penetrar pelo sovaco e assim, urrou. Ambos afundam um tanto na carne podre e Carlos alcança um crânio, que desfere com precisão no rosto do infeliz, que cai desacordado. "Um a menos" pensou, sem ligar para a tripa humana cheia de fezes que estava enrroscada em tornozelo e ignorou também seu sovaco, que vertia sangue. Ao abaixar para tomar a faca do gordo, percebe a sombra de um deles chegando por trás, era o cara siliconada. Vira-se com rapidez e ódio. A lâmina assovia e entra pelo umbigo do infeliz, resultando num enorme talho. Aplica um cabeçada direto no corte, derrubando a criatura, que indefesa, chora pela sua vida. "Não é hora para piedade" gritou o diabo ao plantar um fêmur lascado goela adentro do cara de cão. Quando procura o puto da tanga, percebe o mesmo correndo já quase fora da vala. "Alcançar, interrogar e matar!", pensou. 

38

O pobre diabo sentiu medo verdadeiro pela primeira vez no dia. Não entendia como o universo conspirara para que retornasse àquela pocilga a céu aberto e, de quebra, dava de cara com três bestas do apocalipse, possivelmente os responsáveis por sua quase morte. Carlos poderia ir embora, mas a curiosidade persistia em suas idéias. "O que faziam ali? Será que queriam certificar-se que meu corpo já estava em processo de composição?", pensou. Podia atacá-los e esbofeteá-los quando virassem para ir embora, mas não tinha forças para tanto. Carlos então resolveu agir com prudência, tentar conversar calmamente com os filhos de belzebu. Não lembrava-se de ter visto pessoas tão horrorosas em toda a sua vida. Saiu dos arbustos e foi logo notado pelo traveco de tanga. O fedor era insuportável. Alguns miolos e tripas escapavam de alguns corpos e era possível sentir todas aquelas almas rodeando seu corpo. "Seu filho-da-puta", disse o deformado ao mesmo tempo em que todos olharam para Carlos, que não disse nada. "Você não está morto?", a besta selvagem falava com certo sotaque estrangeiro. Devia ser um gringo que se veio ao Brasil a passeio e se apaixonou e nunca mais foi embora. Nosso herói permaneceu mudo, não conseguia falar merda nenhuma. Os outros dois sacaram facas e apontaram para o bucho de Carlos. Foi só aí que ele olhou com calma para eles: um cafuzo que possivelmente aplicara silicone no rosto e parecia uma anta bípede e um velho careca, cheio de cicatrizes ao longo do corpo que vestia somente um camisolão.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

37

Carlos não sabia ao certo o que lhe motivara a ajudar a orca, mas continuou correndo e logo avistou o tapete amarelo radiante no fim da estrada. Nunca deu muita bola para aquelas flores, o sol estava forte e precisou diminuir o passo. Andando rápido, foi acometido por um odor inacreditável. Olhou para a beira da estrada e notou um enorme poça de merda amarela borrifada no acostamento, na hora não se deu conta que horas antes, aquela massaroca fétida habitava suas entranhas. Nauseado, voltou a correr e chegou ao campo de girassóis. Desesperado, zigzagueou por entre as milhares de flores procurando Jaci. Quando estava para sair pela outra extremidade do campo, ouviu gemidos e sussuros. De butuca, espichou a vista até encontrar a origem dos gritinhos. Foi então que descobriu porque Jaci nunca lhe dera bola, ela curtia os esquisitos. Estava fornicando com Altair, justo o anormal! "Vai entender essas vadias!" Teve que interromper o coito do mondrongo e explicou a situação da pobre Clodoalda. Sentiu nojo, aquela colossal morena sentando seminua na motoca de Altair e indo embora, com aquele cu empinado e desesperada.
Nisso, lembrou-se que havia castigado a estrada e aquela merda era de sua autoria - estava próximo da vala. Resolveu adentrar um tantinho na mata, procurar alguma resposta, talvez.
Chegando no bueiro de satanás, viu que três pessoas caminhavam cuidadosamente entre as carcaças, se muquiou nuns arbutos e observou a movimentação do elementos. Após uns minutos percebeu, eram travecos incrivelmente feios. Um deles usava apenas uma tanga, com peitos siliconados muito tortos e a barba por fazer.