segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

18

Eusébio estava condescendente até aquele instante, mas o jogo não demoraria a virar. O crioulo, que pouco se importava se um preto velho lançasse-lhe uma maldição cavernosa, pois era cético como um tatu, estava pronto para decretar uma dívida eterna de Carlos para com ele, mas quando Éder abriu o bico e começou a falar da noite regada a rum e cachaça, Zezé - e essa era a forma como as mulheres o chamavam -, percebeu a ligação íntima dos dois, o compadrio, pois não é bobo. Trata-se de uma amizade de longa data, alicerçada por centenas de garrafas vazias. Carlos era o principal cliente do Galo Fêmea. Ali é seu reduto, seu lar. A simbólica morte da noite anterior nada mais era que o resultado sintomático de uma relação doentia. Aquele cenário deu asco a Eusébio. Pensou nas araras e jabutis que tanto amava e ficou enojado de ter financiado bebida àquela alma desgraçada. "Me arrume um saíra-sete-cores que estamos conversados. Com os pais de santo eu me viro...", disse o gigante, interrompendo o testemunho de Éder que falava ao mesmo tempo em que servia uma coxinha a Carlos.

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