segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

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Enquanto seguiam ao Galo Femêa algo muito estranho acontecia.
Na fazendinha de Eusébio, os animais estavam ouriçados e barulhentos, como se prevessem o mal que estaria por vir. Uma velha coruja-das-torres, ave das mais agourentas, deu seu último pio e morreu. O mais sinistro é que permaneceu empoleirada e de olhos abertos, como uma múmia de rapina.
A propriedade de Eusébio fica um tanto afastada do pequeno centro urbano. Um sítio próspero e muito limpo, apesar das centenas - talvez até milhares de animais que lá habitam. Um enorme pomar e um pequeno lago lamacento, onde ele costuma nadar nu. O descomunal crioulo vivia muito bem. Seguindo pela mesma estrada, que é de barro puro e poeirento, chega-se à enorme propriedade dos pais-de-santo: o Terreiro Sete Gangas. Um grande templo que mistura as mais diferentes vertentes espíritas. Lá pode se mexer desde as mais leves das religiões afro até as mais ocultas. Sabe-se também, que nos domínios do Gangas há altares para Asmodeo e recitais do capa preta de São Cipriano, enfim, um pessoal que jamais deve-se arrumar encrenca. Carlos peidava fino somente em pensar nos terríveis cramunhões engarrafados que lá eram criados. Por sorte, Eusébio parecia estar do seu lado na confusão com o Gangas, e nesse momento delicado, o cético negrão é um bom aliado. As contas entre os dois poderiam ser acertadas com trabalho ou favores sexuais, neste quesito, Carlos não se importava, desde que se livrasse dos mestiços do Gangas.

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