segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

28

Os símbolos do sonho ainda eram uma incógnita. Não sabia se encarnava o satanás que se tornara na viagem astral ou se mantinha a devoção pela procrastinação. A necessidade de achar Rita, a puta, o saíra, ou de entender como fora desovado, àquela altura já havia lhe cansado. Sabia que isso era efeito da lavagem espiritual a que fora exposto. Ao descer a picada rumo ao centro, olhou para o céu e viu um belíssimo papagaio-de-cara-roxa, tão raro quanto a ave que buscava. O pássaro voou rapidamente e se meteu no meio de um pequeno bosque que circundava o caminho. Carlos não titubeou e engendrou-se na pequena floresta. Caminhou por uma trilha recheada de gerânios cheirosos e elicônias pontiagudas. A terra estava úmida e um perfume inundava o ar, causando uma agradável tontura em nosso herói. Avistou novamente o papagaio. Ele pousara sobre um enorme galho de uma gigantesca árvore. Não sabia ao certo o que o levara até ali, mas era um alívio se comparado ao calor que fazia fora do bosque. Quando pensou em virar e ir embora, ouviu vozes se aproximando. Era Rita, e estava acompanhada de um bigodudo que, apesar de Carlos não se dar conta, era o mesmo caminhoneiro que o xingara enquanto cagava no meio-fio e, pelo jeito, ele iria utilizar os serviços da moçoila.

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