quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

24

Durante aqueles instantes alegres, o cérebro de Carlos viajou novamente para o terreno de desova. Conseguia olhar-se estirado no meio do sangue e da sujeira, como se fosse um espírito observando o corpo abandonado. "Vilma, a senhora prepara uma limpeza pra mim?", Carlos disse referindo-se à lavagem espiritual que a dona do bar realizava nos amigos. Filha de Obaluaiyê, ela tinha a receita para livrá-lo daquela lembrança cinzenta e desagradável e das pragas adquiridas. Vilma olhou fundo nos olhos de Carlos, soltou a fumaça do cigarro e ordenou que Altair preparasse uma tina com água quente, apesar do calor escaldante. Carlos despiu-se e entrou na pequena bacia para ganhar um banho de folhas de sabugueiro. Em transe, dona Vilma pediu que São Lázaro o livrasse das pestilências enquanto Altair o banhava com uma concha. Carlos saiu magnetizado, ganhou duas guias, uma cor de terra e outra preta, e foi-se embora.

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