domingo, 2 de agosto de 2009

45

"Arre! Assombrando meu ganha pão novamente, seu cara de caralho!", disse o caipira rindo, enquanto Carlos se virava. Galato era um caboclo velho de pele escura e voz mole. Espantou-se pela sobrevivencia do pobre diabo e o convidou a sua casa, para um café com bolinhos. "Alguém lá em cima gosta de você, foi uma surra e tanto". Sentados em tocos de madeira na pocilga fedorenta de Galato, deliciaram-se com autenticos bolinhos de pombo-selvagem com castanha de barú. O capiau contou que cruzou com Carlos descendo do carro de Bilica e na volta de seu compromisso viu sua carcaça rolando vala a dentro e uns vultos se ocultando na mata. Avisou Abel, pois se Bilica lhe deu uma carona amigável, deveria ser afeto de Panambu. Galato explicou que era contratado do Gangas e aquelas carcaças eram restos de sacríficios humanos - era o segurança daquele iml a céu aberto. Contou que por pertencer às entidades, aquela vala não podia receber cadáveres comuns. Seu trabalho era somente este: Impedir que sangue comum contamine os outros e também metralhar urubus, coisa que fazia com maestria. Quando viu que alguém havia desovado o pobre diabo, ficou temeroso e buscou os vultos na mata pela madrugada toda. "E você encontrou quem me desovou?" Assim que o caboclo confirmou que sim, Carlos gelou, se dando conta que finalmente saberia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário